são tantos os lugares

Escrevo na varanda do apartamento antigo, onde encontrei minha Fenda das Marianas - que minha irmã me ensinou ser o lugar mais profundo do oceano -, sentindo a brisa fria da manhã e percebendo o sol nas costas, passando de acolhedor a insistente conforme as páginas vinham. Rodeada de vasos de plantas e do silêncio do Minhocão de pandemia. Espiando os vizinhos do prédio em frente e me olhando no reflexo do vidro, que indicava meu humor e misturava as imagens do dentro e do fora, do meu corpo e da minha casa. A primeira que morei sozinha e que ainda sinto saudades.

Escrevo no bosque do condomínio onde cresci, protegida pelas árvores robustas que guardavam os segredos das brincadeiras de criança e das angústias adolescentes. Ou na grama de lá, à vista dos vizinhos que me achavam um pouco estranha - ou talvez não desses a mínima. 

Escrevo caminhando pelos corredores da casa da minha avó, onde procurava histórias para viver e reflexões maiores do que eu para sentir. Às vezes topava com ela, também caminhando pela casa e apreciando a vida, e me sentia flagrada. Com o tempo, passei a vê-la como cúmplice, que agregava às minhas histórias e reflexões ao me contar as dela.

Escrevo mergulhada no som de britadeira, dos ônibus, motos e sei lá mais o que que passa por essa rua, desse apartamento que é pragmático mas que também é acolhedor. Que me permite escrever os sonhos, nos sonhos, para os sonhos. 

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