reflexões sobre Crescer

Recentemente tive covid e foi um catalizador de muitas reflexões.

Ainda não sei descrever muito bem o que foi ver os dois risquinhos no teste. Depois de mais de dois anos me cuidando tanto, me privando tanto e de tanta coisa, é impossível não sentir uma espécie de derrota. Tenho três doses da vacina, então foi um caso bem leve, o que me deixou aliviada e confusa. Se em maio de 2021, passávamos por um dos períodos com mais mortes e minha faixa etária ainda demoraria para ser vacinada; em 2022, ter covid já não é assim tão grave, tão aterrorizante. Se no começo da pandemia quase não tínhamos testes no país, esse mês descobri meu positivo fazendo um autoteste no banheiro da minha casa. 

Essas diferenças de realidade e de perspectiva foram - ou estão sendo - difíceis de assimilar. Evidenciaram como muita coisa mudou muito em pouco tempo. Evidenciou como passamos, como passei, por muita coisa nos últimos tempos. Me fez perceber como eu cresci muito mais do que tinha me dado conta, quase mais do que eu posso aguentar, como se fosse mais e mais rápido do que cabe em mim. Mas na verdade é só muito porque crescer dói mesmo. Dói muito, incomoda, arde, coça. Me pego pensando às vezes se não sou muito madura para alguém da minha idade - sempre me disseram isso -, mas acho que condiz comigo e que eu me encaixo perfeitamente bem dentro dos meus conhecimentos, habilidades, aprendizados; dos meus crescimentos. Sinto que estou exatamente onde poderia e deveria estar, mas crescer dói. E assusta. Às vezes viver também dói e assusta. Mudanças assustam.

Fazia tempo que eu não sentia tão forte, essa conhecidíssima sensação de crescer, que vem acompanhada de um luto, da sensação de perda do que passou, do que não é mais, não cabe mais. Dos lugares físicos e abstratos que não são mais meus, que não me comportam mais. Vem acompanhada de um frio na barriga e urgência de coragem para descobrir o novo, viver o novo, o temido desconhecido que pode ser, inclusive, eu mesma. Essa sensação de Crescer é uma consciência do Ser, do "it", para citar Clarice. Muitas vezes já senti isso, mas fazia tempo que não era assim tão forte. Veio acompanhada, e acredito que corroborada, por uma mudança na minha menstruação, que agora é mais densa, intensa, longa. Menstruação de mulher adulta, disse minha mãe. Mais uma vez a menstruação mostrando, marcando, evidenciando de forma irrefutável e inegociável que cresci. Que cresço. 

Usamos "crescer" para crianças e "amadurecer" para adultos, mas sinto que nada supera o Crescer. Crescer dói, nem sempre uma dor boa, mas assim é bom. É necessário. Faz parte de estar viva, a parte mais intrínseca talvez, mais primordial. Não tem como evitar crescer, não tem como evitar o tempo. 

Outro dia olhei para tudo que produzi até agora e me dei conta que, de uma forma ou de outra, tudo fala sobre Crescer. 

Lembro que meu pai, que é psicanalista, sempre esteve muito presente nos meus "picos de crescimento". Lembro de sua companhia e escuta e não sei muito bem como mas sei que ele me ensinou que crescer, que viver - e um dia morrer - são coisas que sou eu que vou ter que fazer sozinha. Posso ter colo, mas quem deve sentir e entender as coisas sou eu. Talvez minhas reflexões sobre "descolar-me" tenham a ver com isso. Quem tem que crescer sou eu. 

"Não tenho medo da morte" é uma música que me acompanha bem nesse tipo de reflexão ardida. Clarice Lispector também, sempre.

Como sempre, com sinceridade,

Lorenza





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