meu olho de praia e a praia é um ótimo lugar pra quem não gosta de furinhos

Hoje vou compartilhar os processos dessas duas videoartes realizadas entre outubro e novembro de 2020. 

Foram as videoartes mais despretensiosas que fiz até agora e, junto com Para Além do Ato, as mais abstratas. Em outubro, a pandemia estava em um momento mais estável e eu e minha mãe pudemos passar alguns dias em um apartamento alugado em Meia Praia, em Santa Catarina. Os vídeos partiram desse momento de reencontro com a praia e com alguns hábitos de praia da minha família, depois de tantos meses praticamente sem sair de casa - esses "hábitos de praia" que eu só me dei conta que mudam de família pra família quando comecei a frequentar a praia com amigos e namorados: eu e minha mãe costumamos ir a praia pela manhã e sempre que possível caminhar por ela bem cedo; não gostamos de música na praia, nem de esportes; não passamos muito tempo dentro da água, mas entramos e saímos com frequência do mar para nos refrescarmos; gostamos de ler e de comer na praia. 

Levei minha cybershot comigo todos os dias e com ela registrei as coisas que sempre reparo quando estou na praia. Principalmente nas caminhadas pelas manhãs, ela foi uma companhia e confidente, que registrou e entendeu o que eu estava sentindo. Vinha - e ainda estou - em um momento bem introspectivo e por isso refleti muito sobre nossa forma de ver a praia e de estar nela. 

"A praia é um ótimo lugar pra quem não gosta de furinhos" parte dos registros das caminhadas de manhã cedo e de uma espécie de tiração de sarro de mim mesma, que não gosto de furinhos. A tripofobia, aflição de furinhos ou bolinhas, atinge uma a cada três pessoas no mundo e se manifesta em diferentes níveis. A minha fobia leve e, naquela época, recém descoberta. Foi curioso investigar a praia em busca de furinhos e bolinhas, procurando entender quais me dão mais aflição e quais me dão menos e no meio disso descobrir que a linha entre aflição e fascínio é bem tênue. 

Entendi bastante também sobre os tempos e formas da natureza gravando. Descobri que é de manhã cedo que aqueles bichinhos que surgem e se escondem conforme o mar vai e vem estão mais ativos e visíveis. Percebi as diferenças de espuma do mar e como elas dependem do relevo da areia e da quantidade de poluição daquela área. Percebi como o Sol bate de formas diferentes no mar e na areia dependendo do horário. Percebi como os tipos de pessoas que estão na praia, ou o comportamento dessas pessoas, muda dependendo do horário também. Percebi que muitas dessas coisas já tinha percebido antes, mas que nunca tinha me conta de fato, nunca as tinha registrado como algo que eu sei. Muito dessa videoarte veio dessa passagem do puramente instintivo para o equilíbrio entre o instintivo e racional.

"Meu olho de praia" segue esse linha do equilíbrio entre o sensível e o racional e é o registro de um desejo, um fascínio bem antigo: o ponto de vista que temos da praia quando estamos deitados tomando sol, normalmente com o rosto meio coberto para nos proteger do sol. É um ponto de vista completamente individual, não tem como dividir ele com alguém. Um ponto de vista que depende de onde você está deitado, dos objetos que estão a sua volta, de como você está deitado, do tamanho do seu cabelo. Que tem cheiro. De protetor solar, de sol, do tecido da canga ou outra peça de roupa que está perto de você, do seu C.C., de maresia. Que tem textura. Da areia debaixo da canga, da canga, do protetor e da areia na pele, do sol que esquenta a gente, do vento que às vezes bate, do óculos na cara ou do chapéu na cabeça. Desde pequena reparo nesse momento e penso em como gostaria de registrá-lo. 

Foi um vídeo simples e gostoso de gravar e que eu acreditei que editaria em um dia. Se você leu os outros posts, já sabe que essa é uma grande ilusão. É claro que levei mais tempo para editar, para encontrar os tempos certos e sequências boas, e também porque precisava de mais tempo para aproveitar o nascimento desse registro tão desejado. 

São vídeos simples mas que eu tenho muito carinho. Nem tudo que a gente faz precisa ser muito complexo.

Com carinho, 

Lorenza


links para os vídeos:

Meu olho de praia - https://vimeo.com/518230059

A praia é um ótimo lugar pra quem não gosta de furinhos - https://vimeo.com/518226675

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