um desabafo

Agora há pouco publiquei um post que estava meio escrito há umas três semanas. Fazia algum tempo que eu não escrevia, algum tempo que pensar em sentar, me concentrar e escrever ia além da minha capacidade nesse momento. Muita coisa tem ido além da minha capacidade nesse momento. 

Sinto como se estivesse me mexendo com uma criança agarrada às minhas pernas, fazendo peso e dificultando meu movimento. Como se tentasse correr dentro d'água ou conversar com alguém numa balada barulhenta. E sei que não sou só eu que me sinto assim, por mais que muitas vezes pareça. 

Há umas duas semanas, quando o Minhocão abriu, fui andar e me deparei com um monte de gente angustiada, ansiando pelo sol, pelo ar livre, para ver outras pessoas e voltar a viver um pouquinho mais. Parece que paramos de falar da pandemia e do isolamento porque ninguém aguenta mais e com isso parece que aceitamos essa situação, que estamos bem, que seguimos bem, que o sentimento coletivo não é de luto, de raiva, de desespero e de desconsolo, quando na verdade estamos todos tentando correr dentro d'água. 

Não tem sido fácil ser brasileiro. Não tem sido simples conviver com tantas dúvidas e tantas contradições. Não tem sido fácil conciliar estar atenta, crítica, resistente e ter sanidade. Me sinto maluca valorizando conquistas individuais, valorizando pequenos prazeres, pequenos luxos e ainda assim parece que é a única forma de continuar de pé. Se pararmos para pensar muito, a gente não dá conta e mesmo assim é preciso parar pra pensar. 

Fico lembrando do trabalho "É preciso continuar", da Regina Parra e me perguntando de onde tiraremos forçar para continuar. Não tenho dúvida que tiraremos, mas gostaria de saber de onde. A esperança em mim continua e continuará viva, mas esse post é um desabafo para dizer que não está fácil mantê-la assim. Preciso que as pessoas saibam que não está fácil e que continuarei me esforçando, que saibam que não estão sozinhas em suas dores, sejam elas quais forem. 

Com carinho e sinceridade,

 Lorenza