sobre pesquisa e resultados

Ano passado tive uma epifania sobre a origem da humanidade enquanto humanidade e desde então tenho pesquisado formas de entender e explicar o mundo e como chegamos. É um tema super clichê mas que também não se esgota. 

É de fato fascinante pensar que na evolução humana, pensar que somos animais que desenvolveram linguagem e pensamento, ferramentas e arte (adoro estudar sobre quem veio antes: a linguagem ou o pensamento, é meio o ovo ou a galinha e sempre muito interessante). Que em algum ponto desenvolvemos o concreto e armas. Que abstraímos o pensamento em níveis muito complexos e quase inimagináveis. 

Tive o privilégio de estudar Filosofia na escola desde os 11 anos e me lembro de todo ano começar com discussões sobre o mito: o que é o mito? por que contar histórias? de onde essas histórias vinham? quais suas funções? Aprendi que o mito surgiu com sociedades "primitivas" para explicar o mundo e por mundo aqui sempre falava-se dos fenômenos da natureza.

Pois bem, voltei a essas discussões e tenho estudado o mito, dos pontos de vista mais variados que consigo. Estou lendo "O homem e seus símbolos", do Jung; "Mulheres que correm com os lobos", da Clarissa Pinkola Éstes para entender melhor os arquétipos, sua simbologia e desdobramentos. "Jung, Vida e Obra", da Nise da Silveira para compreender melhor os conceitos de Jung. Estou ouvindo o Podcast maravilhoso Noites Gregas, em que o Professor Moreno conta as histórias (talvez estórias) dos deuses de forma clara, didática e envolvente, destacando o caráter narrativo da mitologia grega. Eu nunca tinha pensado muito sobre isso. Quando era pequena achava que as histórias da mitologia tinham realmente acontecido ou que eram histórias verídicas floreadas, mas, na realidade, são histórias escritas por homens - e algumas poucas mulheres que temos registros. São de fato narrativas literárias!

Isso me levou a ler "Mito e Religião na Grécia Antiga", do Jean-Pierre Vernant. O autor discorre brevemente, pois se trata de um ensaio, sobre a organização da sociedade grega e o papel da religião e, com isso, o papel também da arte. Ele explica que a religião não se dava pela mitologia, como comumente acreditados, mas sim por meio dos rituais. Acontece que os mitos faziam parte do imaginário popular e corroboravam para construção dessa religiosidade, mesmo que indiretamente, e que serviam também para educar a comunidade, explicar o que é certo e errado, os valores, os costumes e assim por diante. Em outro podcast que ouvi, falou-se de como os mitos servem não só pra explicar os fenômenos da natureza, como eu aprendi na escola, mas pra explicar os sentimentos humanos - esse podcast não vou indicar, pois apesar de ter aprendido coisas interessantes, os autores têm posicionamentos muito duvidosos. 

Voltando ao Vernant, a religião grega se baseava então em três pilares: o rito, o mito e a representação simbólica em pinturas e nas famosas esculturas - aliás, você sabia que as esculturas as quais temos acesso são na verdade réplicas romanas das esculturas gregas e que as originais era de bronze, pintadas em cores diversas e adornadas com pedras preciosas? (li isso pela primeira vez em História da Arte do Gombrich e depois em outros textos e vídeos por aí). A religião grega partia então da ação, o rito; da palavra, o mito, e da imagem, com as pinturas e esculturas e assim fazia-se presente em todos os aspectos da vida grega. Os rituais e sacrifícios que ele descreve no livro são de uma complexidade absurda.

Me empolguei contando sobre o que tenho pesquisado, mas o que queria mesmo dizer é que essa semana comecei a escrever o roteiro da minha próxima videoarte e fiquei feliz e maravilhada em perceber que toda essa pesquisa e estudo têm retorno. Não vou falar de mitologia, não diretamente, mas é um vídeo com caráter oral e que resgata de alguma forma a ancestralidade. Conforme escrevia, percebi que usava conceitos e ideias que aprendi e internalizei a partir das minhas pesquisas, que consegui sintetizar meu conhecimento e aplica-lo da forma que melhor me convinha. Vale a pena pesquisa, vale a pena se aprofundar, vale a pena reelaborar o que conhecemos. Conforme os pontos vão se ligando, as coisas vão ganhando mais sentido e mais graça e é impressionamente como uma descoberta sempre leva a outra. 


Fica a dica de alguns livros além dos mencionados: 

Pegando Fogo: Por que cozinhar nos tornou humanos, Richard Whanghan

O Pensamento Selvagem, Claude Levi-Strauss

A necessidade da Arte, Ernest Ficher

Breve História do Mundo, Ernest Gombrich

A eficácia simbólica. In: Antropologia Estrutural, Claude Levi-Strauss

 

Com carinho, 

Lorenza





Comentários

Postagens mais visitadas