nem todas as ideias dão certo

Dando continuidade ao relato de ideias e processos que "não deram certo", vou compartilhar hoje um projeto que consumiu muito tempo, energia, pesquisa, materiais e não foi concluído. 

Comecei a fazer yoga no mesmo dia em que comecei a quarentena, dia 16 de março de 2020, e desde então pratico quase todos os dias pelo canal da Pri Leite. Aprendi e aprendo muita coisa com a yoga: é de fato uma prática tão revolucionária quanto dizem por aí, uma filosofia de vida mesmo. No final das aulas, fazemos uma postura chamada shavasana, a postura do cadáver, ficando deitados de barriga pra cima em relaxamento total. É uma espécie de meditação que, segundo a Pri Leite, nos permite perceber e absorver os efeitos da nossa prática. 

Pois bem, na primeira conversa que tive com a minha melhor amiga depois de ter terminado, comparei aquele momento com uma shavasana, enquanto me adaptava a ser solteira novamente e absorvia tudo que tinha vivido nos últimos dois anos. Decidi registrar essa sensação em um tecido, uma espécie de sudário para aquela fase da minha vida, onde bordaria o contorno do meu corpo e tingiria o tecido com cores que representassem o que eu estava sentido. 

Deveria bordar ou tingir primeiro? Com que cores exatamente? Que tipo de pigmento? Ele ficaria exposto no chão ou na parede? Bordaria primeiro: os sentimentos e sensações passavam pelo meu corpo e não o meu corpo pelos sentimentos. Tinha que ter azul perto do ombro direito, só sabia disso. Usaria corantes guarany, pois já tinha tido uma experiência com eles. Ficaria exposto no chão, para representar a shavasana, e eu precisaria de alguém para me ajudar a contornar meu corpo no tecido, pois minhas tentativas de fazer isso sozinha tinham sido desastrosas. 

Preciso ressaltar que me enrolei até não poder mais para começar a executar essa ideia, o que acredito que me prejudicou bastante. Sinto que absorvi todos os efeitos da minha prática antes de colocar a ideia do tecido em prática. Não acho que isso seja um problema, acredito que muitos processos se beneficiam dessa demorava, da reelaboração, mas nesse caso a poeta ser uma fingidora me fez perder força. 




Esboço que fiz das cores que usaria. 

Essas cores remetiam muitos aos chakras e eu queria fugir da relação com energias, mas imaginei que no tecido eu poderia manejar isso e em grande parte pude, mas não soube a hora de parar e estraguei o efeito satisfatório que tinha alcançado até que rapidamente. 


Nessa primeira etapa aprendi que devemos saber a hora de parar mas que é fácil se envolver pelo processo e ignorar isso; que corantes guarany machucam a mão e é sempre melhor usar luvas para mexer com produtos sintéticos; que é necessário saber esperar entre uma camada e outra e que pisos com textura são péssimos lugares pra trabalhar com tecido e água. Como eu não tinha muito espaço, fiz tudo no chão quadriculado da minha varanda, o que deixou o tecido marcado e, quanto mais eu mexia e menos esperava, pior ficava.





Conversei sobre esse processo com algumas pessoas e quem mais me ajudou foi minha amiga Gabi, aquela com conversava quando tive o insigth. Ela me questionou porque eu não usava pigmentos naturais para tingir o tecido e me passou um curso do Domestika sobre isso. Com isso repensei todos os conceitos que tinha pensado até então e decidi refazer tudo.


Comprei um novo tecido e usei açafrão, colorau, hibisco, café, argila verde, canela e pitanga. Ficou lindo mas com muitos resquícios dos pigmentos, que achei que poderiam comprometer a conservação do tecido - lembrando que aprendi a pensar sobre isso com a outra ideia que não deu muito certo e que tecidos são suportes de fácil deterioração por fatores biológicos (insetos e microorganismos), especialmente se estiverem envoltos por compostos orgânicos como os pigmentos em questão -, então decidi lavá-lo. Claro que saiu tudo que eu tinha feito porque não tinha usado nenhum fixador: podem me chamar de mané, mas realmente não pensei nisso. Estava tão envolvida no processo e querendo finalizar a ideia que sinto que meu pensamento ficou turvo. Depois disso, desisti - por ora - dessa ideia. 

Aprendi muito sobre a importância de dominar a técnica que estamos usando: pesquisar, testar e testar mais um pouco. Percebi como sinto falta de ter treinamento nesse sentido e como preciso estudar mais. Ter os materiais e espaço ideal também fazem a diferença e aprender a respeitar os tempos das coisas. Mesmo que não tenha um tecido shavasna aqui pra mostrar pra vocês, aprendi muito mesmo com tudo isso e escrevendo esse post me dei ainda mais conta disso. Talvez esse post tenha ficado um pouco confuso, mas é pra combinar com esse processo não-nascido rs. 

Vou deixar aqui uma dica de curso sobre preservação de materiais para quem tiver interesse: https://www.escolavirtual.gov.br/curso/267.

Com carinho, 
Lorenza.





Comentários

Postagens mais visitadas