Onde se guardam as coisas importantes

Hoje vou compartilhar o processo de um vídeo que tinha tudo para ser bem fácil mas foi demorado de fazer e exigiu muito mais de mim do que eu podia ter imaginado. 

No ano passado, quando comecei a bordar, minha madrasta me deu um monte de tecidos da minha bisavó, que ela tinha guardado quando vendemos a casa da minha avó, há vários anos - ela sugeriu que eu bordasse nelas, quando estivesse craque, mas acho que não tenho essa coragem. Como conto no vídeo, me deparei com pequeníssimas bolsinhas de crochê, que já intrigavam todo mundo por ali pois não cabia quase nada nelas e não dava para usá-las como se usa uma bolsa a tiracolo. 

Vim para São Paulo e, numa madrugada de insônia, fiquei pensando sobre a bolsinha e a história que minha mãe tinha contado para explicá-las. Era lógico separar objetos para guardar na bolsinha, perto do peito, e gravar isso. 

Escolher os objetos é que foi o problema: ainda estava um tanto apegada ao meu término e sentia que deveria colocar alguma coisa que representasse meu ex-namorado. Acho que no fundo eu sabia que não tinha mais nada a ver e que o vídeo não era sobre isso e me enrolei até não poder mais para gravar. Também tinha separado fotos 3x4 de pessoas importantes mas me incomodava a literalidade dessa ideia - fora toda a questão do uso de imagem de outras pessoas. Cada hora eu encrencava com um objeto diferente, o que me fez carregar a bolsinha com os objetos e um dos tecidos (para usar de fundo) por várias idas e vindas de Curitiba, sem nunca gravar. 

Até que, mostrando a bolsinha e os objetos para o meu crush (por falta de palavra melhor), ele me apontou que parecia que eu estava falando da minha mãe. Minha mãe e eu temos passado por momentos difíceis desde que eu terminei e ela se separou. Estamos encontrando uma nova forma de nos relacionarmos, sem mediação ou interferências de outras pessoas, novas formas de nos relacionarmos enquanto duas mulheres adultas, o que tem sido tema de muita reflexão e análise. E, de repente, tudo fez sentido: eu estava rondando um tema sem coragem de alcançá-lo, me distraindo e me confundindo com outros assuntos. 

A partir daí tudo fluiu, mas fluiu bem devagar, quase parando. Esse foi um dos maiores aprendizados desse vídeo: o tempo de maturação das coisas, como às vezes algumas ideias vêm antes de estarmos prontos para ela e nem sempre nos damos conta disso. Até hoje não sei o quanto do tempo entre a ideia e o vídeo final foi procrastinação e o quanto foi alguma coisa dentro de mim dizendo que ainda não estava madura para executar essa ideia. 

A gravação foi outro ponto que me jogou na cara que tudo leva muito mais tempo do que a gente acha que vai levar. Depois de me enrolar mais um pouco, me preparei, esquematizei o roteiro e a decupagem, e separei uma manhã para gravar tudo, afinal era pouca coisa. Levei uns três dias para gravar. De última hora mudei o planinho que ficaria no fundo, ou seja, carreguei aquele um por meses à toa, para aprender que não dá pra se apegar muito ao planejamento. Mudei planos, testei coisas que não deram certo, regravei muita coisa. Usei um tripé sozinha pela primeira vez e pensei como deveria ter levado mais a sério as aulas de direção de fotografia da faculdade. Marquei meu chão com um monte de fita crepe e criei códigos para organizar tudo: nessa gravação fui diretora, atriz, diretora de arte, roteirista, diretora de foto, assistente de direção, continuísta, narradora e com certeza alguma coisa mais. Usei tudo que aprendi na faculdade de cinema e me senti muito capaz. Depois que entendi que as coisas levam mais tempo e dão mais trabalho, me senti mesmo muito capaz. 





A edição foi tranquila e a narração também, apesar de ter tido que repeti-la muitas vezes. Gravei em Curitiba (sempre gravo narrações lá. À noite na casa do meu pai, que é o lugar mais silencioso ao qual tenho acesso) e contei com a ajuda do crush, que é ator e me ajudou com a entonação em alguns momentos. 

Finalizei o vídeo lá também, pois precisava de uma foto do colo da minha mãe com a bolsinha, que foi tirada com a câmera analógica. Optei pela foto em analógica porque fiz testes com a digital e ficou muito ruim. Os testes com o meu colo (obrigada de novo, Crush, pela ajuda com esses testes) estragavam o final porque dava para ver que era eu ali. Foi meu pai quem mandou revelar a foto e isso me fez sentir que tenho apoio e ajuda da minha família. Me fez feliz.

meu colo

colo da minha mãe, que de alguma forma me lembra o da minha bisa,
 então realmente fez mais sentido.

Minha mãe ficou muito emocionada e feliz com o vídeo final. Minha madrasta também, ela se emocionou e ficou feliz de ter sido citada. No final das contas, se ela não tivesse guardado aqueles tecidos, não teria nem post nesse blog. 

Senti que esse vídeo tocou aqueles que o viram de um jeito especial e isso me preenche. 

Por fim, um comentário sobre a ação do vídeo e como opiniões de fora são essenciais. Minha ideia inicial era ir guardando os objetos na bolsinha, mas quando mostrei os objetos para uma amiga, tirando eles de lá, ela me apontou como isso era mais interessante, prendendo a atenção do espectador, gerando curiosidade, além de ser mais interessante para o plano esteticamente também. Obrigada a você também, amiga.

Com muito carinho, 

Lorenza

link para o vídeo completo: https://vimeo.com/521034473





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