todo espaço que há pra mim

Em agosto do ano passado, participei de uma oficina de autovídeo, ou seja, de videoperformance com o pessoal do Projeto Vórtice. A oficina propôs percebecemos as  narrativas que pudessem emergir dos cômodos nas nossas casas, a partir um olhar mais atento e mais ativo para esse lugar que a pandemia nos obrigou a estar. 

Nos foi proposto pensar na casa como um disparador de memórias, como uma extensão do nosso corpo, como lugar simbólico. Pensar que estar em casa, habitar nossas casas, pode ser em si em processo criativo. 

Eu não estava na minha casa e sim na casa do meu pai, em Curitiba. Eles (meu pai, minha madrasta e minha irmã) tinham se mudado pra lá há pouco tempo, portanto minha relação com aquele espaço ainda engatinhava. Para o exercício da oficina, me gravei com o celular debaixo da escrivaninha do meu quarto de lá:

"Me filmei debaixo da escrivaninha do meu quarto na casa do meu pai, com o abajur rosa, tentando me encaixar no espaço e descobrindo o que tem ali. Na portinha escondida encontrei uma caixa cheia de coisas antigas do meu pai, com fotos e um bilhete da minha avó, que não tive coragem de ler. Foi só um teste, um exercício, mas gostei da potência guardada ali. Numa próxima vinda exploro mais." - 20/08/2020

vídeo do exercício da oficina

O começo da pandemia foi um período bastante conturbado para a minha concepção de casa. Moro em São Paulo há alguns anos e considero que minha casa é aqui, mas a sensação de fim de mundo de 2020 me fez questionar isso, a ponto de até minha irmãzinha perceber e comentar sobre minha confusão. "Todo espaço que há pra mim" marca essa busca por um espaço que é meu, mas acredito que também fale do enclausuramento da pandemia e de outros temas mais. Admitir que me sentia enclausurada ajudou muito para que eu pudesse sair desse lugar, definir onde é minha casa e quais espaços são meus, simbólicos ou físicos. 

A videoperformance recebeu uma menção honrosa no 11º Festival Durante, o que me deixou extremamente contente e reforça que as leituras para performance podem ser ainda mais amplas. O festival desse ano dialoga com a Semana de Vanguarda da Década de 1970 de Minas Gerais e o Manifesto "Do Corpo à Terra", de Frederico Morais e tem curadoria de Paulo Nazareth, Shima e Camila Buzelin. 

Se tiverem interesse, posso falar mais sobre a Semana de Vanguarda de 1970 e a relação que estabeleci com "todo espaço que há pra mim" para o festival. 

Link para a videoperformance: https://vimeo.com/518191576








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